(...) Estes néons com que agora nos confrontamos configuram situações que são outras tantas arquitecturas diagramáticas do lugar e das percepções do visitante. A luz flui em vibrações ínfimas, organizando-se em estruturas que se convertem em ícones de uma mise en abîme de espaços dentro do espaço. As diagonais que se estruturam em triângulos , assim como o dinamismo que cruza linhas horizontais com verticais oscilam entre a objectividade do desenho e a imaterialidade da sua percepção espácio-temporal, a rigidez e a maleabilidade, a realidade e a possibilidade. A luz revela-se não só como condição da escultura mas igualmente como sugestão de uma arquitectura íntima onde conflui a natureza do sistema com a abertura formal e conceptual da sua percepção. Os objectos sinalizam um percurso que envolve o espectador, projectado para além dos limites do espaço e dos confins do corpo que nele fluirá num movimento amniótico.  Como medusas, as estruturas sucedem-se na progressão deste movimento, expandido pela reflexão recíproca e reversível do lugar, emergindo este do jogo de espelhos que lhe amplia a escala e lhe promete o infinito. O corpo torna-se a medida do espaço e o lugar transforma-se numa materialização do olhar. Deste modo, o artista não cessa de experimentar sempre, convidando o espectador à partilha dessa experimentação, numa gramática da interacção que a obra de Silvestre Pestana jamais deixou de pesquisar e interrogar..."

in "Águas Vivas", catálogo, Galeria Alvarez, Porto, 2002