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museu da electricidade da madeira / casa da luz / funchal _ 10 agosto a 1 setembro 2001 A Empresa de Electricidade da Madeira está de um modo geral associada à recente história colectiva de todos nós, e a ela estamos indissociavelmente "ligados", quer queiramos quer não, pela produção dessa ininterrupta "corrente eléctrica" através da qual a indústria, a ciência, a tecnologia, o desenvolvimento económico e a cultura, se revelaram como exponenciais "condutores", conectando-nos às novas configurações da realidade, induzidas pela velocidade da luz. A rápida aparição de um campo eléctrico unificador que, segundo McLuhan, eliminou ancestrais factores de tempo e espaço da associação humana, de que a internet é um recente exemplo, condicionou a nossa dependência biológica a um novo meio ambiente artificial, onde uma ocasional falta de corrente eléctrica prolongada, poderá significar uma catástrofe. Embora possamos optar entre o on ou o off como um "estado" dependente da nossa vontade, esta "corrente" ultrapassou já os nossos desejos individuais e "electrizou" os gestos mais insignificantes do nosso quotidiano. efectivamente, reestruturou a quase totalidade dos nossos artefactos e generalizou-os à escala planetária, convencionando-os com uma unidade de medida para o seu consumo: o watt. Apesar de tecnicamente definida como unidade de potência eléctrica, equivalente à potência da corrente de um ampére, sob a diferença de potencial de um volt, o watt traduz fundamentalmente a representação económica de um bem de consumo de raiz social, do qual já não podemos prescindir. leva-nos inclusive a comportarmo-nos como verdadeiros junkies, pois estamos aumentando insaciavelmente o seu consumo. Agarrou-nos. Mais do que a água criou "psiquicamente" em nós um estado de contínua semi-dependência orgânica. A sua privação, num contexto urbano, mergulhar-nos-ia numa complexa ressaca existencial. E para muitos artistas, como para nós, a sua abstinência pode significar o abandono da obra. Electro-junkies desde a mais simples descarga eléctrica do volt, até as labirínticas viagens virtuais no ciberespaço, propusemo-nos ao "feed-back" de equacionar na antiga central térmica conhecida na Madeira como a "Casa da Luz", as nossas diversas práticas artísticas, como a "computer art", a "electrografia", etc... Pois se de alguma forma o nosso projecto invoca essa mítica e ubíqua energia subtraída a Zeus, é na "Casa da Luz", pela sua história, pela sua actual vocação museológica complementada com um espaço dedicado a exposições temporárias, pelo que ela representa no nosso imaginário, que encontramos os "pólos" geradores desta iniciativa. Esta afectação física a um lugar pressupõe, no entanto, a sua própria desmaterialização dado que, no seu limite, a luz eléctrica é instantânea, difusa e radicalmente descentralizada, até à consumação utópica do despojamento geográfico e "orgânico do "site". A construção de uma página na World Wide Web, em permanente construção e aberta à participação de artistas que queiram interagir com o projecto, é pois uma questão intrínseca que pretendemos muito brevemente activar. Colocará conceptualmente o projecto noutro "standing", muito para além do tempo e espaço desta exposição, efémera e geograficamente localizada, integra-a na "rede", cujo suporte está na redentora e libertadora corrente eléctrica que, eufemisticamente, parece querer separar o nosso espírito da matéria. E é com este espírito que procuramos, como artistas conscientes de que os meios tecnológicos recriam o homem, tornar esta exposição num acto fundador de novos projectos que, a seu tempo, surgirão sobre o denominador comum que originou o título desta exposição: What is Watt?. Agradecimentos: Galeria Porta 33; Secção Autónoma de Arte e Design da Universidade da Madeira; Direcção Regional dos Assuntos Culturais. |